Gosto muito de chuva.
É uma sensação de amor mais do que de ódio, na realidade, pois amo o cheiro das ervas molhadas, da maresia trazida pelo vento sul , das gaivotas em sobressalto, ansiosas por um alimento esquecido.
Gosto dos reflexos das casas, das árvores e das silhuetas nos charcos junto às bermas dos passeios. Gosto da dança dos chapéus de chuva na calçada.
Nunca vi chuva num país tropical, mas adoraria sair quase nua para os campos, abraça
ndo a água do céu feita louca.
Há alturas em que adoro contemplar as plantas depois da chuva, gratas e contentes, luminosas, e compensadas.
Também gosto de abrir as persianas e ver as gotinhas de água a rolar pelo murete.
Sou mais planta do que gente. Amo mais a Natureza do que as pessoas e os animais. É o silêncio delas que me fascina. Não falam,não exigem, não cansam, não poluem, limitam-se a dar o que têm e a prometer o que vão ter.
Como elas, gostaria de morrer de pé , com a certeza de que uns meses depois, outros botões brotariam, belos, prometedores e esperançosos. Que futuro risonho!
Só por isso valeria a pena viver num mundo sem palavras, feito de sons magníficos, imagens extraordinárias e paisagens transcendentes.